Traições políticas: motivos e consequências


A grande debandada de aliados do Presidente Jair Bolsonaro após os primeiros meses de governo, inclusive a de seu próprio partido, o PSL, levando-o à desfiliação, demonstrou, além do teor oportunista de grande parte dos dissidentes que se elegeram por causa de sua vinculação com o então candidato, a incômoda ausência, em sua base, de dois fatores fundamentais para a formação de uma onda política mais consistente: pressupostos filosóficos uniformes e consciência de grupo enquanto coletivo de Direita.

O primeiro dos elementos diz respeito a uma linguagem comum ao coletivo ideológico, que possibilite uma articulação harmônica entre seus membros. Só é conseguido mediante intenso debate prévio entre os intelectuais do grupo, moldando os conceitos filosóficos e o palavreado político que guiarão as diretrizes dos militantes. Não havendo tal coesão interna, a adesão ao movimento será extremamente difusa e heterogênea, ocasionando diversas autocontradições que o enfraquecerão. No caso da "onda Bolsonaro", agregou-se desde defensores teóricos do conservadorismo, como os seguidores do filósofo Olavo de Carvalho, até meros membros ou simpatizantes de forças militares, sem o mínimo arcabouço na seara filosófica. Isso fez com que a plataforma de propostas do Presidente, após sua vitória eleitoral, não fosse apoiada de forma coordenada, nem com a mesma ênfase entre todos os aliados, que, em boa parte, passaram a apenas pleitear benesses às suas respectivas classes profissionais em detrimento das políticas de Estado mais abrangentes.

Já o segundo elemento remete a algo muito presente nos coletivos de Esquerda mundo afora, que permite que possam conter ou impedir repercussões negativas contra seus membros e maximizar aquelas que são contra seus adversários: o senso de coletividade apurado. O fato de compartilharem as mesmas ideias, já dotadas de pressupostos filosóficos comuns, criados várias gerações antes por inúmeros pensadores e suas obras literárias, é pretexto suficiente para considerar uns aos outros como companheiros de causa cuja defesa em público deve superar eventuais imoralidades cometidas por cada um deles. A discussão sobre estas deve se restringir a eventos internos, evitando o desgaste, perante a opinião pública despolitizada, dos correligionários da causa. Dessa forma, apenas as falhas dos inimigos ideológicos são diuturnamente expostas, tanto pelos esquerdistas quanto pelos próprios direitistas, que, na ânsia puritana de se diferenciar moralmente de seus antagonistas, alimentam a difamação aos próprios partidários sobre os quais pese alguma suspeita de delito. O resultado disso é o desgaste não apenas dos indivíduos detratados, mas também da causa a qual defendem, pois, para a população em geral, será enaltecido cada milímetro de erro da Direita, unanimemente atacado, enquanto, da Esquerda, apenas serão expostos, quando descobertos, os crimes colossais, rapidamente vinculados por seus membros a indivíduos específicos, livrando de mácula a causa socialista.

O fenômeno sociológico tornado claro no Brasil desde 2016 com as manifestações contra o establishment é constituído por uma revolta popular contra os grupos antirrepublicanos, sejam eles socialistas ou apenas patrimonialistas, que ocuparam instituições nacionais e passaram a atuar diretamente em desfavor do interesse público majoritário, contrariando os valores da sociedade brasileira. Tal movimento, por não haver pressupostos filosóficos uniformes e senso de coletividade entre os conservadores, grupo ideológico majoritário no país e condutor da referida metamorfose social, se atrelou estritamente a um indivíduo, que, por meio da defesa destemida e coloquial dos valores da maioria dos brasileiros, ganhou notoriedade, sobretudo com a publicidade proporcionada por seus inimigos da mídia. O político Jair Bolsonaro encabeça, desde então, a Direita brasileira, ainda cambaleante. Sem a sua liderança e seus instrumentos de ação, que no momento são os aparatos da Presidência da República, a ideologia da grande parte da população nacional ficará órfã, novamente, de representatividade relevante no cenário político até que surjam as condições que deem consistência à Direita ou apareça um novo político no qual possa se personificar o movimento. Logo, a integridade das preferências políticas dos brasileiros está, na atual conjuntura, sensivelmente interligada à capacidade de governar do Presidente Jair Bolsonaro.

Por terem sido eleitos por conta da vinculação eleitoral ao líder do movimento, supostamente comprovando a adesão à, no processo eleitoral, embrionária Direita brasileira, os dissidentes e traidores que atualmente difamam o chefe de Estado da nação muito provavelmente amargarão severas derrotas nos próximos pleitos. Tais atores políticos, pautados por discordâncias superficiais e pela repercussão negativa diuturna da grande mídia, como se ecoasse a maciça opinião pública, sobre as mínimas atitudes do Presidente, tentam, a todo custo, desgastar Bolsonaro, dificultando as negociações entre os poderes Executivo e Legislativo. Este último, dotado de real independência, após ter sido comprado com dinheiro público durante vários anos, tem esboçado crise de abstinência por negociatas obscuras e propinas, dando a impressão de incapacidade de articulação por parte da cúpula do governo.

O novo partido em gestação, Aliança pelo Brasil, capitaneado por Bolsonaro e seus filhos, seus aliados mais confiáveis, deve trazer uma maior coesão entre seus apoiadores, ajudando, no longo prazo, na articulação política. No entanto, é preciso que os intelectuais da Direita se unam perante o objetivo de aprimorar a riqueza literária do movimento político em ascensão precoce, dando, então, solidez à representatividade popular nas próximas gerações.


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