Boa oratória regida por contradições


Uma enorme quantidade de pessoas tem se declarado a favor de Ciro Gomes e, em sua maioria, sustentam que ele entende bastante de economia e sabe o caminho correto para colocar o país no trilho. Isso é preocupante, pois ele possui uma ótima oratória que tem lhe auxiliado a enganar muita gente.


Ciro defende o modelo nacional-desenvolvimentista, que já foi comentado neste blog e é discutido por diversos economistas, principalmente porque o Brasil adotou tal modelo por um bom tempo e os resultados deixaram muito a desejar. Teoricamente, esse é um modelo muito bem visto, mas, na prática, gera consequências bem desastrosas para o país e, diferente do que o seu nome diz, acaba retardando o desenvolvimento nacional.

Ciro tem dito uma série de contradições, seja na esfera política, ideológica, ou econômica. Uma de suas contradições veio de uma entrevista na GloboNews, onde o candidato à presidência defendeu que os países não crescem através da poupança externa, ou seja, o crescimento do país deveria ser financiado com nossa poupança interna, coisa que já teria um problema de cara, pois hoje temos 16% de poupança, que é suficiente apenas para financiamento do investimento atual. Para financiar um crescimento, essa taxa teria que aumentar, mas, em épocas de bonança, nossa taxa nunca passou de 20%, que ainda é muito baixa para financiar investimento. Como se isso não bastasse, o candidato também defende aumentar a rede de proteção social. Tudo isso falado parece ser muito bonito, porém, economicamente falando, acarreta problemas, pois não é possível aumentar a taxa de poupança e a rede de proteção social ao mesmo tempo; isso porque:

1) para manter a proteção social é preciso aumentar o gasto do governo, o que reduz a poupança do governo;

2) em parte, o gasto do governo é financiado por impostos, e os altos impostos reduzem a renda, que, com tudo mais constante, reduz a taxa de poupança.

Temos alguns exemplos de países asiáticos que aumentaram sua taxa de poupança, porém eles tinham um baixo gasto com rede de proteção social e menos impostos que o Brasil. Portanto, dizer que o país vai crescer utilizando a poupança interna e, ao mesmo tempo, aumentar a rede de proteção social, é um tanto contraditório; uma hora ou outra, chegará o momento em que ele terá de decidir qual política seguirá: se será com altas taxas de poupança para financiar investimento; ou se será aumentando a rede de proteção social, diminuindo investimento público e poupança interna.

No meio de tantas contradições, o candidato tem enganado os eleitores; e mais uma delas é sua proposta de, supostamente, retirar do cadastro negativo, por inadimplência, todas as pessoas que nele estão. O mecanismo consiste na compra, por parte dos Bancos Públicos, da carteira de créditos podres dos Bancos Privados, fazendo uma espécie de renegociação da dívida e colocando os inadimplentes como garantidores de outros inadimplentes. Se um cidadão já não consegue pagar sua dívida e vai parar no cadastro de negativos, será ainda mais difícil pagar a dívida de outros que não cumpram a renegociação. O resultado é que, em um futuro não muito distante, os Bancos Públicos terão que assumir o prejuízo e recorrer à União Federal, ou seja, no final das contas, o dinheiro sairá do bolso do pagador de impostos.

Outro ponto negativo é o candidato afirmar que os taxistas têm sofrido uma concorrência desleal das multinacionais. Defender isso é ir contra o progresso do país, pois antes de a Uber chegar ao Brasil, só contávamos com os taxistas, que ofereciam um serviço caro e ruim. Além disso, a Uber paga, no Brasil, IR, PIS, COFINS e contribuições municipais, além de IPI, ICMS e IOF, que os motoristas pagam na compra do veículo, e ainda IPVA e ISS. Enquanto os taxistas são isentos de IPI, ICMS, IOF, IPVA, ISS e as cooperativas não pagam PIS e CONFINS, ou seja, pagam apenas a licença que os taxistas possuem. Com tudo isso, o candidato ainda afirma que vai olhar "com carinho" a questão a favor dos taxistas.

Essas são só algumas das informações contraditórias ou mentirosas ditas pelo candidato e que têm enganado muita gente. A dica que damos é sempre pesquisar e procurar se informar em mais de uma fonte, para não se deixar enganar por discursos belos, onde tudo é muito bonito, mas que, por trás, as consequências são catastróficas. Estamos em um período bastante importante para o futuro do país, e um pouco mais de pesquisas nesse momento pode gerar consequências positivas para nosso futuro.


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